
O
improvável, o quase impossível, o inimaginável vivem nos desafiando e
acontecendo. Contra todas as expectativas o mundo é muito mais aleatório
e imprevisível do que gostaríamos ou estejamos preparados para aceitar.
Esse é o tema de Nassim Nicholas Taleb, em
seu livro Black Swan onde desenvolve um longo ensaio sobre o impacto
dos eventos altamente improváveis.
A metáfora do cisne negro vem do fato
dos europeus não saberem da existência de cisnes negros até observação
de exemplares na Austrália. Antes dessa primeira observação, parece, era
comum alguém dizer que algo era tão impossível quanto um cisne negro.
Taleb lembra-nos que o fato de nunca termos visto alguma coisa não quer
dizer que ela não exista, e apesar de isso parecer óbvio ele nos mostra
exemplos do dia a dia que comprovam que realmente não entendemos isso. O
livro culmina com uma severa crítica à curva de Gauss e a toda teoria
estatística em torno dela que vem sendo fartamente usada em diversas
áreas. O autor mostra que a curva de Gauss, ou curva do sino, tem uma
aplicabilidade muito específica, mas o prazer psicológico que ela gera
de previsibilidade e controle dos riscos tem feito com que seu uso se
estenda por áreas em que definitivamente ela não poderia ser aplicada. O
mercado financeiro, que é a especialidade do autor, é pródigo em
eventos altamente improváveis, para provar isso ele lista os eventos que mais impactaram a
lucratividade dos mercados, mostrando que estes respondem por um percentual
significativo de todos os ganhos acumulados nos últimos 50 anos. São
todos eventos que caem para lá dos 10 sigmas. Desse modo fica patente que a curva normal não é preparada para lidar com
enventos altamente improváveis que insistem em ocorrer a cada 10 anos, em vez de, a cada 10 milhões
de anos como prevê o modelo de Gauss. Com
exemplos eloquentes e um estilo mordaz, o livro critica o mercado
financeiro internacional que se farta de usar softwares baseados nesses
modelos e conta o caso de uma empresa de investimento fundada pelos
“maiores economistas do mundo” nobeis em modelos matemáticos de
modelagem do mercado e que praticamente faliram quando o default da
Rússia (um evento improvável) derrubou os mercados.
O autor mostra que o mercado se comporta muito mais como o modelo de
Mandelbrot, que é usado para modelar sistemas caóticos, este porém não
permite prever o futuro e por isso não agrada aos economistas. O modelo
de Gauss apesar de não funcionar quando ele seria mais necessário ele
serve para fazer previsões (erradas) e isso se adequa a um mercado que
vive de comprar e vender previsões.
No geral Black Swan é muito divertido pelo modo irônico e sarcástico
que o autor escreve e também pelos exemplos e comentários que faz. Além
de um ensaio sobre a implausibilidade, é também um ensaio filosófico
sobre a dificuldade de aceitarmos como a sorte e o azar tem muito mais
relevância nos nossos destinos.
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