
Os
Guias Politicamente Incorretos tem feito bastante sucesso desde o
lançamento e se tornaram uma unanimidade quase tão rodrigueana quanto
aquela que criticam. Incorretos perante a patrulha ideológica que
permeia uma parte importante da academia os livros tentam revisar a
história garimpando novas fontes para entender eventos e personagens da
história. Os autores esbanjam ironia, sarcasmo e um estilo jornalístico
de fácil leitura.
O ponto alto dos dois livros é tentar aproximar do público em geral uma história conhecida apenas nos meios acadêmicos com todas suas nuances, contradições, subjetividades, sem heróis nem bandidos, sem maniqueísmos nem idolatrias. Uma história bem diferente da que é usualmente apresentada nos colégios. É comum que alunos de menos de 15 anos aprendam uma história simplificada, com heróis de vida ilibada lutando por ideais nacionalistas, a história dos vencedores como se costuma dizer. Por outro lado a evolução do pensamento e a descoberta de novos documentos permite uma leitura do passado através novos prismas. Alguns leitores mais sagazes notarão excessos dos autores que serão perdoados pela necessidade maior de se reler os fatos com novos olhos. Por tudo isso recomendo a leitura, inclusive para os menores de idade para que confrontem com a versão “correta” a que por ventura estejam sendo doutrinados.
Os livros, porém, não são perfeitos e muitas vezes pecam pelos mesmos
defeitos daqueles aos quais critica. Quando mostra um personagem tratado
como herói na história oficial como contraditório, as vezes
preconceituoso ou equivocado na realidade está apenas dizendo que os
tais heróis eram gente. Criticar um personagem por ter defeitos parece
cair no mesmo erro de quem os escondeu achando que eles não os poderiam
ter. Allende é criticado por praticar natação e equitação. A maconha
fumada por Pancho Villa é tratada com menos benevolência e mais ironia
que a maconha fumada pelo exército Mexicano que o combatia.
Outro
ponto que me chamou atenção foi a crítica exagerada ao barroco mineiro, iniciada pela constatação que Aleijadinho não existiu na forma do personagem conhecido, e sua história foi uma criação de um jornalista sem assunto, decide se enveredar também a criticar o barroco mineiro como um todo. Concluindo que as esculturas do Aleijadinho seriam todas ruins um pastiche mal feito do barroco europeu e que sua obra máxima seria a péssima paixão de
cristo em Congonhas do Campo. Como prova, reclama dos narizes das
estátuas que representam os romanos. Narizes aduncos que tornaram feios
aqueles que eram os vilões daquela passagem e que não está presente nos
outros personagens representados.
Em
outro momento os autores citam 3 números. 1- Que a produção de cobre no
Chile caiu 2% após a nacionalização, 2- que o numero de funcionários
nas minas aumentou em 45% no mesmo período, 3 - Que a produção por
funcionário caiu 29%. Com esses dados conclui que o governo era um
grande incompetente. Por meu lado, porém, me permiti outra leitura, que seria que
apesar da confusão toda pós nacionalização das minas a produção de cobre só caiu
2%, e os custos aumentaram pelo aumento de funcionários que tinha o
objetivo de dar empregos mesmo que prejudicando a produtividade.
Os
autores também citam diversas fontes secundárias sem se preocupar em
buscar a fonte primária e apesar de ter uma bibliografia razoável a
maioria das citações partem de poucos livros.
No
geral os 2 livros merecem serem lidos pois corroboram também a
importância do acaso. Estar no lugar certo na hora certa pode conduzir
pessoas comuns com seus defeitos e contradições a assumirem
responsabilidades muito maiores que suas pernas, e que para caberem
dentro dessa missão acabam virando heróis ou mitos.
Um comentário:
Olá Georges, essa minha crônica http://blog.paulo.avelino.nom.br/2012/02/sempre-fomos-politicamente-corretos.html foi inspirada neste seu post. Abraços.
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